quinta-feira, 8 de março de 2012

Visões Existêncialistas , pelos meus livros prediletos. Jheni Cabrera

Pequenos trechos de alguns destes livros que enfatizam o tema, começando pelo livro Misto-Quente do autor Charles Bukowski.
Este livro, conta a infância, adolescência e juventude de Henry, que a maior parte do livro não sabia  ao certo que caminhos seguir na vida, apenas “arrastava” sua existência, com ajuda de  bebidas, para não se  situar, o tempo todo em sua realidade amarga. Uma das  frases do personagem que coloca está idéia é:
“Que tempos penosos foram aqueles anos, ter o desejo e a necessidade de viver, mas não a habilidade.”
O personagem principal, se  sentia um verdadeiro inútil perante a vida, e que todos os outros seres eram detestáveis, por sempre qurererem se sobressair aos outros , ele não conseguia achar na vida, um só motivo que o fizesse querer acordar , não encontrava seu lugar no mundo, nem uma função, que realmente valesse a pena viver, se considerava apenas mais um infeliz em meio a tantos, apenas existia como qualquer outra coisa ou objeto, apenas  estava ali, mas não sabia para que. Para Henry, era aterrorizante existir, em um mundo onde tudo era vazio, principalmente as pessoas. Colocaremos outros trechos do livro afim de expressar essas idéias do personagem:
“Eu sequer  sabia o que desejava. Sim eu sabia. Queria algum lugar para me esconder, um lugar em que ninguém tivesse que fazer  nada. O pensamento de  ser  alguém na vida, não apenas me apavorava, mas  também me deixava enojado. Tudo era eternamente triste, melancólico, detestável. Mesmo o clima era insolente e desgraçado. E minhas questões pessoais  continuavam tão más e lamentáveis quando no dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de  vez  em quando, embora nunca o suficiente. A bebida era a única coisa que impedia um homem de se  sentir para sempre atordoado e inútil. Todo resto ia furando e  furando sua carne, arrancando seus pedaços. E nada tinha o menor interesse, nada. As pessoas eram limitadas e  cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses fodidos pelo resto da  minha vida, pensei. Precisava de um lugar  isolado para me esconder. A vida das pessoas sãs, dos homens comuns , era uma estupidez pior do que a morte. Parecia não haver alternativa possível. A educação também parecia uma armadilha. A pouca educação que eu tinha me permitido, havia me tornado ainda mais desconfiado.”
Pelos trechos acima, concluímos a verdadeira insignificância, a que o personagem atribuía a sua existência, o tanto que os outros seres humanos a  sua volta lhe causavam nojo, por sempre estarem atrás de máscaras criadas ao decorrer da  existência, deixando assim sobre  suas vidas, a marca da  mentira, do falso, o personagem não atribuía nem a si próprio o “valor” da  exitência.
Passando por outro autor , de caráter existêncial, que é a obra, um romance  mais especificamente, Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Johann  Goethe, esta obra foi acusada de  ser imoral, que levava os jovens a se suicidarem.
O livro é um drama amoroso, trágico. Que tem como personagens principais, o jovem Werther  e sua amada Carlota, que por um amor não correspondido, Werther faz várias criticas e  questionamentos, quanto a existência dos homens, que podemos analisar, nos trechos a seguir:
“Se ocupar com tanta assiduidade da  fantasia, chamar de  volta  a lembrança dos males passados, ao invés de tornar o presente suportável...”
Nesta citação o personagem visualmente  coloca, o quanto nós homens, para conseguir suportar o presente, buscamos no passado. “amuletas”, situações já vividas a que o presente não condiz mais, pois o homem sempre tenta buscar os momentos em que já se  sentiu feliz, e reproduzi-los no presente, o que prejudica e  pertuba sua existência atual, ou cria para si, fantasias de  uma vida perfeita, se perdendo num sonho inexistente, e assim se anulando para a  vida, pois precisam embriagar-se de  alguma forma, para suportar tais fardos, que a vida lhe impõe. Muitos buscam afirmar sua existência através da criação de um sonho. Um trecho da obra nos permite, refletir sobre isto:
“ Que a vida humana é apenas um sonho , outros já disseram, mas também a mim esta idéia persegue por toda parte. Quando penso nos limites, que circunscrevem as  ativas e investigativas faculdade humanas, quando vejo que esgotamos todas  as nossas forças em satisfazer nossas necessidades, que apenas tendem a  prolongar uma existência miserável; quando constato que a tranquilidade a  respeito de certas questões não passa de  uma resignação sonhadora, como se  a gente tivesse pintado as paredes entre as quais jazemos presos com feições coloridas e  perspectivas  risonhas. Meto-me dentro de  mim mesmo e  acho ai um mundo!  Mas antes em pressentimentos e  obscuros desejos, que em realidade e  ações vivas. E então tudo paira a minha volta, sorrio e  volto a  sonhar, penetrando adiante do universo.”
Neste trecho acima, podemos observar que o o personagem é uma vitima inconformada a  respeito da limitação humana, que anseia o infinito, no entanto sempre é limitado por suas própias fronteiras, que se contentam apenas  em satisfazer suas necessidades mais básicas, enquanto deveriam procurar expandir suas almas.
Para Werther, o que limitava os seres humanos, eram as  regras, que por mais que se diga algo em favor delas, elas destrõem o verdadeiro sentimento da natureza  e sua genuína expressão. Entende-se  que com este comentário Werther coloca mais uma vez, que a limitação do ser  humano, sua opressão se dá por muitos fatores, criados externamente a  si, e  por nascerem já neste sistema, o individuo já nasce limitado, não conseguindo expandir sua verdadeira essência e  emoção, em sentido a vida, contudo podemos novamente entender  que a limitação da  existência, se  faz tema principal deste romance, nesta citação a seguir:
“Te digo meu amigo, que quando estou a  ponto de perder o juízo, todo o tumulto interior se  me apazigua, com a visão de uma criatura como aquela, que percorre o ciclo estreito de  sua existência em ditoso abandono ,e  encontra cada dia o necessário, e vê cair folhas sem pensar em mais nada  , senão que o inverno está chegando.”
Deste trecho, pensamos a pequenez em que e coloca a existência em si, os humanos apenas sobrevivem, se  arrastando um dia após o outro, sem querer alcançar algo que priorize suas virtudes perante  sua vida, não procuram algum motivo que lhes  façam sentir vivos de  fato, que lhe apeteçam realmente como humanos, pois nós humanos estamos tão acostumados com a perversidade do mundo, que não almejamos nada que não seja respirar, e estar ali, como qualquer outro objeto ou vegetal.
Existir, implica na expansão do eu, na liberdade mental de um ser, de superar limites impostos, e se  chegar a essência das  virtudes humanas.
No livro assim falou Zaratustra, de  Nietzsche, podemos observar alguns trechos que enfatiza, sendo a  existência um fardo pesadíssimo para muitos, a fulga dos seres para criações divinas, que os levam além da realidade nua, o trecho a seguir, do livro citado acima é um exemplo:
Zaratustra: “ Para longe de  Deus, e deuses, em atraiu essa vontade: o que haveria para criar, se  deuses- existissem! Quereis criar  ainda o mundo diante  do qual podereis ajoelhar-vos , assim é vossa última esperança e  embriaguez. Com espelhos de  mil faces, captei ainda seu olhar. “
Assim falou Zaratustra: “Ò sentimentais hipócritas, ó mentirosos! Falta-vos a  inocência do desejo ,e  agora caluniais por isso o desejar! Onde há inocência? Onde há vontade  de  gerar. E quem quer  criar  além de  si, esse tem para mim a  mais pura das vontades.”
A vontade criadora, pode expandir o “eu” no mundo,  fazer de  sua existência algo suportável, e agradável, pois viver o presente é uma forma de  se libertar do passado.
Zaratustra: “ Querer liberta: eis a verdadeira doutrina da  vontade  e  da liberdade- assim Zaratustra ensina  á vós.”
Enfim uma última citação de  Zaratustra para definir o homem, em sua concepção: “ Eu, animal de  enigma-  assim falou Zaratustra.”
Voltando aos limites humanos, que se faz  uma característica vigente do existêncialismo, pois são tais limites  que oprimem muitos dos desejos humanos, que dissimulam suas verdadeiras vontades, perante sua própia vida. Que os colocam atados sem perspectivas alguma, diante da  imensidão, mais um trecho explicita isto para finalizar a  análise da obra de Goethe:
“A natureza  humana tem seu limites; pode suportar até certo ponto de alegria, a mágoa, a dor, mas passando deste ponto, ela sucumbe. A questão não é, pois, saber se  um homem é fraco ou forte, mas se  pode suportar o peso de seus sofrimentos, quer morais , quer físicos. E eu acho tão espantoso que se  chame de  covarde, ou de desgraçado aquele que se priva da  vida, como acharia impertinente tachar de covarde, ao que sucumbe a uma febre maligna.”
Acima vê-se que até a  felicidade do homem, pode se  transformar também na  fonte de sua  desgraça.
Bom, agora passando por mais uma obra de  Charles Bukowski, o livro intitulado Pulp, no qual o personagem principal era um detetive, mal sucedido na vida, que não sentia nenhuma ambição em viver, e  considerava o resto da multidão e  a si mesmo, como indivíduos repugnantes e  sujos, ele tentava afirmar sua existência através de sua profissão, que era o único motivo que lhe trazia emoção e  o libertava da monotonia irremediável do cotidiano. Em um dos trechos do livro, o personagem descreve a  forma como se  via ao espelho, da seguinte maneira:
“Levantei-me e  fui ao banheiro, me dava raiva olhar o espelho, mas olhei assim mesmo. Vi depressão e derrota. Bolsas escuras caídas sob os olhos. Olhinhos covardes, os olhos do rato acuado pelo puto do gato. A pele parecia que nem tentava. Que odiava fazer  parte de  mim. As sobrancelhas caiam retorcidas, pareciam dementes, dementes pêlos de sobrancelhas. Horrivel. Uma aparência repugnante. Dentes. Que coisa da  porra. Tinhamos de  comer. E comer. E comer, e comer denovo. Èramos todos repugnantes, condenados aos nossos trabalhinhos sujos. Comer e se coçar, e sorrir, e festejar nos feriados. Eu estava sozinho comigo mesmo. E por mais repugnante  que fosse, era melhor que estar coma alguém, qualquer um, todos lá fora fazendo seus pequenos truques e piruetas. Ainda eu não morrera, só estava em estado de rápida decomposição. Quem não estava? Estavámos todos na mesma canoa furada, tentando nos alegrar.”
Deste trecho podemos retirar, o tanto que se faz esmagadora a monotonia, a  mesmisse da  vida perante o ser. Essa maneira enfadonha de existir, e  de como todas  as coisas se  repetem sistematicamente no cotidiano do ser  humano, tornando-o um robô, que se  torna projetado somente para aquilo, sem emoção, sem vida, este fardo para a  existência humana, talvez seja o mais pesado, os indivíduos apenas sobrevivem, apenas esperando a morte chegar, sem nenhuma expectativa, metodicamente.
Existir, eis a consciência do espirito, além da materialidade, existir poderia ser  considerado um  organismo qualquer inserido no mundo, exatamente nesta questão perde-se o senso e a consciência, do verdadeiro poder que concerne de  fato a existência.
Em minha intima percepção, acho um tanto estranho e delirante, um ser  que se  coloca em um túnel obscuro , perante toda a  sua vida, ambicionando a dádiva de ser livre, e deixando de viver o presente, cortando, quebrando assim suas  lindas  asas. O obscuro para essas almas, o caos de  sobreviver em um mundo tão cruel, de  pessoas hipócritas, que usam de várias  representações para viver, sendo essas representações ás vezes válidas  e positivas, o insuportável cotidiano , querendo se  libertar de tudo isso, no entanto preservo o sentimento, que somos livres e  não sabemos o que fazer diante desta imensidão.
Enfim , para fechar as  citações de alguns livros, que contém o tema existêncialista, agora partimos de trechos de  uma música de  Raul Seixas, que se  intitula Canto para minha morte, de gênero bolero, escrita mais ou menos, no ano de 1985, onde Rauzito expressa ás várias formas da morte de  um ser, observamos isto nos próximos trechos que se  seguem de  sua música:
“Eu detesto e  amo a  morte
Morte, morte que talvez
Seja o segredo, desta vida.
Qual será a forma da minha morte?
Uma das  tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas: um acidente de  carro
O coração que se  recusa a bater, no próximo minuto
A  anestesia mal aplicada, a vida mal vivida
A ferida  mal curada, a dor já envelhecida
Ò morte, tú  és tão forte.”
Partindo destes trechos da  música de Raul, vê-se que o homem vive criando sentidos para sua existência, no entanto só a morte é um fato e sentido real, pois a  morte, ela tanto pode ser um fato natural ao homem, como pode ser também a consciência de um vazio interior.
Contudo se fazendo agora uma analogia  da   música, Canto para minha morte, com um poema de Nelson Rodrigues, que se segue agora:
“ A morte é anterior a si mesma. Começa antes, muito antes. È todo um lento, suave, maravilhoso processo. O sujeito já começou a  morrer e  não sabe.”
O sujeito procura esquecer  que o homem é também seu próprio cadáver. E ele queira ou não, não destruirá jamais sua vocação para a morte.
Nada mais falso que o medo de morrer, e eu diria que nós fazemos tudo para morrer, o mais depressa possível. Os nossos hábitos, os nossos usos, os nossos vícios, as  nossas irritações, não disfarçam a vontade, a urgência , a fome da  morte, pois a morte é um grande despertar.
Enfim, partindo do conceito que somos seres mutáveis, acredito que todos os dias nós morremos e renascemos, como se fosse uma renovação, um ritual, uma busca pelo sentido da  vida. Muitos indivíduos estão presentes  apenas materialmente, pois sua alma, seu intimo envolve um vazio extremo, onde não habitam mais os sonhos ,a  liberdade, predominando apenas o caos interior, morrendo pela boca, pela alienação perante o mundo, o pessimismo em não acreditar na expansão do espirito, e descobertas interiores,  em sentido de  ser  fiel, aos nossos desejos.
O homem, das 24 horas do seu dia, 8 ele dorme, 12 ele dedica as  funções do cotidiano  e as outras pessoas, o que sobra de  tempo para pensar em si, é tão pouco, que ele acaba por anular-se  para o mundo, pois não reserva um tempo para suas verdadeiras vontades, e nem para a criação de algo que acrescente com prazer  sua existência.  A maior solidão é na multidão, quem dera poder ficar mais tempo consigo mesmo, e tornar-se suportável a  ti mesmo.
O homem é teatralmente trágico, e insatisfeito consigo mesmo.
Para finalizar  todas essas análises , destas obras descritas, gostaria de  colocar  uma percepção de  um filme intitulado Clube da Luta. O filme mostra a vida  de um homem, que trabalha apenas para satisfazer vontades de  consumo totalmente desnecessárias, mas que para ele faz todo sentido, pelo fato do encantamento que as mercadorias produzidas no nosso cotidiano nos envolve, como se  possuindo certos objetos, o individuo se sentisse satisfeito e  completo, pois é  neste sistema que já nascemos, onde nós somos objetos, e a mercadoria acaba por obter vida própia, se  sobressaindo pelo seu fetiche em nossas mentes, como se  possuir coisas fosse  sinônimo de uma existência bem sucedida, que ao decorrer da  vida mostra-se extremamente vazio, dar mais valor a objetos, do que olhar para dentro de  si, e enxergar realmente o que te  faz sorrir verdadeiramente, colocar para fora fora sua vontade criadora, em favor de  suas  várias virtudes, que nenhum objeto pode expressar, pois quem cria uma existência, é o próprio ser.
Neste mundo tão repleto de  tecnologias, de ciência avançada, é extremamente difícil não se  alienar, perante um objeto de desejo, o individuo passa a ter sentimentos  por um objeto, considerando  suas emoções invisíveis, perante tanta novidade que essas “coisas” lhes proporcionam, e que inconscientemente essas coisas lhes são impostas, para o individuo conseguir se  afirmar como “alguém” na  sociedade.
Citando agora Alváro de Campos, heterônimo de  Fernando Pessoa:
“Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me infilerem  conquistas
Das  ciências(das ciências, Deus meu, das  ciências!)
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se tem a verdade, guardem-na! “





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