quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Àcida- Jeni Cabrera

Aqueles olhos, grandes  e negros, que fixaram em minha mente, mesmo em alto  grau de embriaguez... Olhos mórbidos de alegria inconsequente, de pudores dilacerados... era como um olharzinho de Capitu arrependida,  deformados como aquela maçã podre, que esqueci na geldaira cor de carne...
 Mas era linda, linda, puta e pura!
Que imensidão, que tortura ela dizia...que teatro do absurdo , que alegoria. De repente  um estilhaço de espelho corta suas mãos... era ela  que refletia, quer dizer... nem conhecia. Reconhecia. Os dois olhos se tornaram muitos, quem suportaria!  

(olhar de medusa)

RÒTULOS - Jeni Cabrera



Quantas  normas e nomes tenho de guardar, quantos gestos incompletos tenho de incenar...
 Não sou um rótulo, sou sujo, sou verme... me colocam tantas suposições , e  “morro” , como tenho de ser tão perecível. 
O dia se faz novo, nem tão bonito, ou melancólico como ontem...mas renasce e os fardos de ontem já estão mais leves.
Nada faço pelo eterno...
Porque escrevo aqui.? Pelo mesmo motivo que me mata com coca-cola no boteco da esquina.



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

G. N.

A mesa é fêmea
de pernas abertas

eu como nela




INSÔNIA- Jeni Cabrera




Que penúria, esses trajes sortidos que me impõem, que luxuria minha mente , mente e  crua
Que trajeto sensato, e ela nua
Que desejo irracional do animal
Que aviso prévio na rua, que escroto esse lamento.
Esse pacto demente, mente
Entre tantos hábitos, habito no cinza, quanto sangue na rua.
Que insônia, que falta da falta.

RELEITURA DO CANTO DE ARIANA PARA DÌONISIO- Jeni Cabrera




Embebedo minha carne com teus vinhos e vicios
Eu, demasiada em pecados
Pervertida em seus encantos
Querido Dionisio, te eternizo no meu corpo
pois cada linha desses versos, sou eu inteira poesia

Trasformo cada parte cativa, do seu ser  no que anseio
me abstenho de sua presença,

pois assim, meus versos estariam escarnecidos,
distante, faço de ti o que quero, te invento
Amo-te meu Dionisio, pois tem o espirito livre,
ès de todos e ninguém.

Eu demasiada em devaneios, sua Ariana.




O EQUILIBRISTA- Jeni Cabrera

Nos tremores daquele dia fatigante, o equilibrista , com seus pés descalços , calejados , entrelaçados a  imundice daquele dia infrutífero...implorava em seus íntimos desejos, que a corda derramada sobre o palco, fosse arrebentada...
Corte as cordas, deixem-me cair ...sussurava, quase num gemido deplorável. O silêncio diante do suplicio devastador, repletos de lamento do ignorado quebrou-se.
 Logo o instante de penúrias do silêncio ensurdecedor, fora violado.
Os risos do palhaço agora, se faziam palavras ditas, era tudo que se fazia, a sonoridade soava como desespero incontido , ao espectador...
Em segundos, o todo era nada, e de nada em nada...Com tudo, a corda fora desfazendo-se... seus pés que sempre teve onde se  equilibrar, agora eram apenas  um ato sem destino...
As portas perceptivas foram libertadas, no entanto o que restou-lhe é o vento lá fora... 

(Daniel na cova dos leões)

ISNTANTINHO- Jeni Cabrera

Andava sobre meus versos, caia sobre suas pausas ,lágrimas de um  pierô...
Nada daquela arte melancólica que se estendia ali,  comovia os sentidos estáticos daquela versão estratégica,  em que se acomodará aquele corpo esguio, estreito entre folhas verdejantes, flores amarelas que revelavam uma alegria gritante , invejável... elas eram por si só, assim como desejará ser.
Sua estrutura exposta ali, era apenas um esboço de ternura imóvel, um simples velejar , mesmo que fosse mental... estragaria tudo.
Um suspirar, e tudo esvaia-se , ou flutuava-se por ares imundos...
Tudo era um complemento variável, uma rima sem nexo... espelhos de mil faces , não saberiam estabelecer  o que faltava, nada falta... e tudo falta.
Num instante, o relógio gritou, a  rima chorou... o verso... o verso acabou...

E agora? - Jeni Cabrera

Eu a Santa devassa, sou o que faço de mim, uma estrela incandescente , meteoro de fulgores... versão limitada do que seria, se não fosse assim...
Ela, Eus, perdi-me a meio tantas rédeas e regras, nada basta , e tudo suporto, pois nada tenho além de pensamentos vagos, que não atribuo nunca um ponto linear que finalize, Reticências apenas...do que digo , do que não falo. Me perdi em minhas faces, em meus encantos, meus cantos, minhas doses elevadas, que a cada segundo parece ser a mais deliciosa e derradeira.

Ela , eu inteira vicios inteira pureza  e demência, elôquencia comovente, na claridade obscura não tenho saída, a não ser o instante. 
Minhas lâminas cerrando meus rostos,  meus olhos ungidos da calmaria elevada, digo... não sou isso, nem aquilo, sou agora. E agora?
Abraço da mãe Natureza- Frida Kahlo

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011


Quantas almas? - Jeni Cabrera, João Paulo, e Joanita

Estagnado em minha cama, era o primeiro trago do dia. Cinzas e brasas se  perdiam entre os meus dedos e minha dor. 
Me perdia entre sonhos irreais (ou reais), meus instintos consumiam, precisava embriagar-me para expandir meus sentidos. A realidade parecia-me pertubadora, o meu Eu destruido em meio as coisas.
Tudo perdia forma, tudo tendia a fome, Eu era um passo indesejado, um ato falho, na sede de ser, maldita ânsia sem fim.Precisava de algo nas mãos, algo que nunca poderiam me ceder, nem o fulgor de minhas entranhas me faziam enchergar diante do espelho embaraçado, não consigo pintar o que sou, o que fui ou o que serei.
Levantei-me e lavei o rosto, parecia que a água que em minha face escorria, levassem minahs faces, e o que me restava era o choque entorpecedor, entre eu , comigo memso.
Duas , três, quantas almas cabe em você? Minhas liras, minhas iras, destorcidas  em minhas almas tão infindas e tão sozinhas. 
Eis que a face, a  cada face, muitas aspas e espaços, muitos Eu's insaciáveis.





quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Reticências... Jeniffer Cabrera

Parei e fui correndo para o calendário, subitamente dei-me conta, que não fazia noção de que dia do mês se fazia, estava tudo tão sistematicamente estático, meus objetos, Eu, que parecia que todos os dias fossem os memsos.
A cabeceira da cama me engolia em sonhos, que marejavam meus olhos, que se encontravam fechados, abertos em outra dimensão.
Lá meu corpo envolto ao seu, minhas retinas fitavam seus olhos, que imploravam para os meus não encará-lo.
Aquelas expressões inflamavam meu instinto, parecia embriagar-me de tristeza, logo quando fui tocá-lo, esvaiu-se entre meus dedos, e sussurrou baixinho em meu ouvido, um segredo... que poderia escreve-lo, a não ser que vos matassem a todos.
Andamos lado a lado, e conforme iamos sem destino, nossas faces iam se metamorfoseando, ora via-me em teu rosto, ora inventava um novo. Quando vi, meus traços, meus modos, minha essência no outro, quis beijá-lo.
Acordei... acabei por fumar um cigarro, corri para o espelho, este me mostrou algo irreconhecivel, lembrei-me da  face que vi  anteriormente, e me reconhecia... Estou assustada, me deixei em outra dimensão , trouxe comigo, e não consigo libertar-me , ou este que vejo sempre fora eu, e o outro que vi, é o que eu achava que era. Sou uma farsa.
Estou encolorizada, procurei em todos os bolsos, onde guardo coisinhas importantes, minhas virtudes, aquelas que possuo... mas não sei onde as coloquei. Paro. Penso. Será que elas estão dançando por ai com meu ego, ou as deixei com você.
Quando no ritual dos corpos, dos sexos entrelaçados, na fome do desejo exarcebado, dei-me carne e essência, perfume de  meu corpo, de minha alma sedenta, penetrante meu suor em ti, seu suor em minha carne, transformando meu ser em você. Você em mim.
Embriagai-me novamente, desta vez passiei pelas folhas amareladas  do meu livro predileto, logo fui iterrompida por vozes, vozes serenas, que cantarolavam com meus pensamentos, acalmei-me, deixei-me ser, e agora não passo de um cigarro fumado.