segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Céu de Concreto - Jeni Cabrera

Quantos olhos a julgar, um rosto pálido de única expressão.
Suportava dois, enquanto nada  fui. Aquela obscura claridade, ofuscava o castanho negro, daqueles olhos entreabertos, repletos de  enigmas. Escorriam sob sua pele derretida, lágrimas secas, intactas, vertidas.
Que erosão perfeita, conduzia seus gestos milimétricos, podia imaginar com clara antecedência, um a um dos movimentos falhos dos seus lábios.
As traças daquele quarto escuro, alimentava-se lentamente de nós, consumindo o vazio.
Uma folha seca no esgoto, tinha mais vigor que aquela.
Um ao outro, fome de ambos, que dois , fizera nenhum.O homem deveria ser superado.
Na dança das virtudes, elevamos nossos espiritos, rimos das  tragédias mais sérias, transgredimos as rédeas. Será sonho? Logo acordei, em devaneios fez-se a luz... saltei me elevando a um primeiro degrau.
Quanto drama. A luz está ai dentro, deixe-a sair.
Conseguia conduzir perfeitamente, cada passo daquela valsinha ensaiada, deslizava os pés como quizesse, dela fiz uma película drámatica.
As taças de vinho seco em cima do televisor, me fazia trêmula, em único pensamento... Consumi-lo em teu corpo, que ardente, que lúxuria.
Tudo era ensaiado, batido como clichê antigo, encenado... Sorri, lamentei-me em silêncio, e acabei por me perder  em seus braços.
    Essa inspiração melancólica, expressava uma comoção latente, deste desprovido sopro de almas, dissimulando todo o pudor.  Que veneno delicioso, encobri-lo de minha náusea.
Entre suspiros vazios, destinava seus impetos inflamados feito anjo embriagado de asas machucadas, que gritava a procura dos deuses, daquele céu de concreto.
Que insulto este grito incontido. Deixe-me sair... Bati a porta, quebrei o ventilador... sem ar... e nunca retornei.... Nunca e sempre.
 Também Deus tem seu inferno: o amor pelo o homem. O meu é de possuir pernas ao invés de asas.


(salomé)

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